Você é perfeccionista?
Ao longo desse texto, eu vou me referir às pessoas como sendo ou não perfeccionistas, mas quero deixar claro que ninguém é perfeccionista. O perfeccionismo não é um aspecto imutável da personalidade, mas um padrão de comportamento, que ocorre em determinados contextos, e que pode ser modificado caso esteja trazendo mais prejuízos do que benefícios para a vida de um indivíduo. É sobre isso que vou falar nessa nova série de textos aqui no blog.
Vamos começar entendendo como as pessoas que apresentam esse padrão de comportamento costumam pensar, agir e se sentir.
Entendendo o perfeccionismo
A maneira mais fácil de identificar se uma pessoa é perfeccionista é o tipo de meta que ela estabelece para si mesma, as quais geralmente são rígidas, abstratas ou irrealistas.
Uma meta rígida é aquela que não admite variações. Tem que ser daquele jeito e pronto. Quando uma pessoa perfeccionista se propõe a “não errar” ou a “tirar nota 10”, qualquer pequena falha ou meio ponto a menos na nota, é considerado inaceitável.
A rigidez também está na tendência a tratar as próprias preferências e demandas como necessidades imprescindíveis e tarefas essenciais. Quando as metas são rígidas, palavras como “eu quero” ou “eu gostaria” são substituídas por “eu preciso, eu devo, eu necessito, eu tenho que”.
Uma meta abstrata tem um padrão inespecífico. Os parâmetros para saber se ela foi alcançada não estão claros e explícitos. Por exemplo, se uma pessoa se propõe a fazer “o melhor trabalho de sua vida” ou a “dar o máximo de si”, como é que ela vai saber se chegou lá? Qual o limite que determina se essa meta foi atingida?
Perfeccionistas nem sempre querem ser “os melhores”. As metas abstratas podem estar disfarçadas em discursos bem menos ambiciosos. Sabe aquela pessoa que “só quer fazer o mínimo que uma pessoa como ela deveria fazer” ou “só quer fazer o que é certo”? Ela pode ser perfeccionista também. Afinal, é igualmente difícil determinar os parâmetros para o alcance das metas nesse caso.
Uma meta irrealista é uma meta inalcançável perante os recursos disponíveis num determinado momento, como por exemplo, querer emagrecer 20 Kg em uma semana ou querer terminar aquele relatório complicado em menos de uma hora (quem nunca?).
As metas podem ser apenas rígidas, apenas abstratas, apenas irrealistas ou envolver esses três aspectos de maneira combinada. Seja qual for a combinação, a pessoa perfeccionista tende a investir boa parte do seu tempo na tentativa de viver de acordo com seus próprios padrões e essa não é uma tarefa fácil.
É de se esperar que, muitas vezes, ela falhe.
Como uma pessoa perfeccionista reage quando interpreta que não atingiu as próprias metas?
Ela entra numa “maré de autocrítica”, atribuindo a si mesma as falhas e, muitas vezes, desconsiderando outros fatores que podem ter contribuído para o resultado obtido. Em sua cabeça, passam pensamentos do tipo “eu sou um fracasso”, “eu sou uma inútil”, “eu não faço nada direito” e há uma tendência a ficar ruminando ideias de como ela deveria ou não deveria ter agido.
Às vezes, a autocrítica é tão pesada que fica difícil encontrar ânimo para se dedicar às tarefas e atividades necessárias para atingir os próprios objetivos, e a pessoa fica paralisada.
Pois é, perfeccionistas são grandes procrastinadores!
Essa ideia pode parecer estranha, pois geralmente associamos o perfeccionismo ao foco, determinação e dedicação. Mas é muito comum ver pessoas cheias de metas rígidas, abstratas e irrealistas completamente estagnadas em suas vidas.
Já falei sobre essa relação entre procrastinação e perfeccionismo aqui. O que acontece é que a pessoa perfeccionista se cobra não só pelos resultados, mas pela maneira como pretende agir para atingir esses resultados. Há uma tendência a acreditar que ela necessita de um “contexto ideal” para fazer as coisas, o que faz com que ela empurre a ação para depois, “quando puder fazer direito”.
Além disso, a pressão interna por fazer as coisas com tanto rigor, gera um intenso desconforto só de imaginar o esforço necessário para alcançar os seus próprios padrões. Evitar a tarefa pode ser a melhor saída para aliviar esse desconforto no curto prazo.
A pessoa perfeccionista pode evitar, pode procrastinar, mas ela não sai ilesa disso, pois essas ações são sempre acompanhadas de culpa e de uma boa dose de autocrítica feroz e impetuosa. “Sou uma inútil, preguiçosa, fracassada, que não consegue fazer nada”.
Mesmo com todos esses percalços, o perfeccionista pode interpretar que alcançou suas metas, de vez em quando.
E como age uma pessoa perfeccionista que obteve sucesso em atingir os próprios padrões?
Fica radiante, solta fogos de artifícios e se dá férias do perfeccionismo?
Não, não, não. Ela pode até ficar feliz, “se achando o máximo”, mas geralmente o relato não é de felicidade, é de alívio: uma sensação de “ufa, consegui”.
Mais importante que isso, seja alegria ou alívio, essa sensação é temporária, dura muito pouco. O cérebro perfeccionista logo faz uma revisão da situação em busca de falhas em sua performance. Quando ele encontra, logo pensa “não fui tão bem assim” e volta à aflição conhecida de quem “precisa correr atrás do prejuízo” para alcançar os próprios padrões.
Tem também a pessoa perfeccionista que, cada vez que atinge uma meta, ela “dobra a meta”. “Devia ter me exigido mais”, “na próxima vez, preciso me superar”, porque, afinal, ela pensa, se contentar é para “os fracos”.
Não é necessário querer ser perfeito ou perfeita em TUDO para ser perfeccionista.
Muitas vezes o perfeccionismo é seletivo, manifestando-se somente em algumas áreas da vida e isso varia muito de pessoa para pessoa.
E você? É perfeccionista? Em quais as áreas da vida seu perfeccionismo costuma se manifestar? Me conta lá nos comentários se você se identificou com essa forma de pensar e de agir do perfeccionismo.
No próximo texto da série, falaremos sobre os custos e benefícios do perfeccionismo para a nossa vida.